Música para seus ouvidos
Até meus nove anos fui como a maioria das crianças, um garoto arteiro. Subia em árvores enormes, jogava bola no meio da rua, desmontava meus carrinhos de fricção para ver como era por dentro, jogava pedra nos gatos da vizinhança, queimava formigas com lupa, enfim, fazia tudo aquilo que as mães não gostavam. Minha mãe ralhava comigo, me dava uns beliscões e até algumas palmadas quando eu passava do limite, mas nossa relação era a melhor possível, eu era o companheiro dela, eu a protegia, eu cuidava da minha mãe e ela cuidava de mim.
Foi no dia que completei nove anos que minha mãe morreu. Foi atropelada quando voltava do supermercado de manhã cedo, ela trazia as compras para minha festinha. Foi o dia mais triste da minha vida. Como éramos só nos dois tive que ir morar com meu pai.
Meu pai nunca foi presente em minha vida, eu o via umas duas vezes por ano, ele tinha outra esposa, outros filhos, morava em outro estado e a mãe sempre disse que ele trabalhava muito. Quando a gente falava por telefone, o que também era raro, ele sempre dizia que me amava e que estava com saudades. Nunca senti muita falta dele, minha mãe supria todas minhas necessidades de carinho e amor.
Com duas semanas na casa nova eu já tinha noção do que me esperava. O pai saía para o trabalho bem cedo e voltava só na hora da novela, os irmãos como eram mais velhos estudavam de manhã e ajudavam o pai na oficina de tarde, minha madrasta cuidava da casa e agora também cuidava de mim. No começo ela me dava algumas chineladas, eu chorava de raiva, pois não fazia nada que merecesse apanhar, passado um mês usava um cinto velho para meu castigo, eu segurava o choro até explodir, até que um dia ela encontrou aquele relho na garagem e eu nunca mais chorei, rezava em meus pensamentos para ela cansar de me bater.
No começo ela inventava algumas desculpa para me dar as surras, desde o copo quebrado até o tênis guardado fora do lugar, do bocejo na mesa até uma resposta que ela não gostou de escutar. Depois ela já nem se dava ao trabalho de me explicar porque eu ia apanhar.
Já era uma rotina, depois do almoço eu ia para o quarto estudar e ela ia lavar a louça. Quando eu escutava o fechar da torneira era esperar dez minutos e ela vinha. Trancava a porta e começava a sua diversão, dizia que se eu contasse algo ela me mataria. O relho esfolava minhas pernas, lanhava minhas costas, a dor era insuportável e eu procurava em seus olhos algum motivo para aquilo, nunca descobri, mas acho que o barulho do estalar do couro na minha pele era música para seus ouvidos.
Foi no dia que completei nove anos que minha mãe morreu. Foi atropelada quando voltava do supermercado de manhã cedo, ela trazia as compras para minha festinha. Foi o dia mais triste da minha vida. Como éramos só nos dois tive que ir morar com meu pai.
Meu pai nunca foi presente em minha vida, eu o via umas duas vezes por ano, ele tinha outra esposa, outros filhos, morava em outro estado e a mãe sempre disse que ele trabalhava muito. Quando a gente falava por telefone, o que também era raro, ele sempre dizia que me amava e que estava com saudades. Nunca senti muita falta dele, minha mãe supria todas minhas necessidades de carinho e amor.
Com duas semanas na casa nova eu já tinha noção do que me esperava. O pai saía para o trabalho bem cedo e voltava só na hora da novela, os irmãos como eram mais velhos estudavam de manhã e ajudavam o pai na oficina de tarde, minha madrasta cuidava da casa e agora também cuidava de mim. No começo ela me dava algumas chineladas, eu chorava de raiva, pois não fazia nada que merecesse apanhar, passado um mês usava um cinto velho para meu castigo, eu segurava o choro até explodir, até que um dia ela encontrou aquele relho na garagem e eu nunca mais chorei, rezava em meus pensamentos para ela cansar de me bater.
No começo ela inventava algumas desculpa para me dar as surras, desde o copo quebrado até o tênis guardado fora do lugar, do bocejo na mesa até uma resposta que ela não gostou de escutar. Depois ela já nem se dava ao trabalho de me explicar porque eu ia apanhar.
Já era uma rotina, depois do almoço eu ia para o quarto estudar e ela ia lavar a louça. Quando eu escutava o fechar da torneira era esperar dez minutos e ela vinha. Trancava a porta e começava a sua diversão, dizia que se eu contasse algo ela me mataria. O relho esfolava minhas pernas, lanhava minhas costas, a dor era insuportável e eu procurava em seus olhos algum motivo para aquilo, nunca descobri, mas acho que o barulho do estalar do couro na minha pele era música para seus ouvidos.
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