Conversas Alheias
Todo santo dia, pego o ônibus, coloco o tocador de emepetrês nos ouvidos e mando bala no volume. Fico ali, admirando a paisagem, pensando asneiras e cantarolando refrãos, ou nos dias de cansaço, tirando soneca.
Introduzi essa rotina na minha vida depois que inventaram o emetrês e os celulares com auto-falantes, que também tocam emepetrês, maldita tecnologia. Ou maldito inventor do funk carioca, que é tocado nesses malditos celulares, diariamente, nos coletivos da cidade.
Pois bem, para não escutar canções escrotas de pessoas escrotas, sendo escutadas por outras pessoas escrotas, tampo meus tímpanos para o mundo e fico dentro da minha cabeça.
Só que hoje a bateria do meu tocador acabou, logo depois que embarquei. Pensei que era o começo do martírio, que longos vinte minutos seriam realmente longos. Engano meu, o ônibus estava meio vazio e os escrotos não se encontravam por ali, a paz reinava naquele lugar. Como era dia de cansaço, encostei o melão no vidro, fechei os olhos e esperei o soninho chegar.
Quando comecei a cochilar, a entrar no mundo de Morfeu e seus sonhos, escutei vozes ao fundo e voltei. Um papo animado rolava atrás de mim, o papo me animou também, fazia um bom tempo que eu não escutava conversas alheias no ônibus. Papo vai, papo vem, eu ali fingindo que dormia, a menina com voz mais aguda sussurrou, alto o suficiente para meus ouvidos:
- Ainda tô com teu gosto na boca.
No que a outra respondeu:
- Hoje tem mais, sua putinha gostosa...
Comentários
Boa!
Adorei o "emepetrês" aportuguesado.