Um dia quente em Porto Alegre
Porto Alegre, janeiro, abafado, 34 graus na sombra, nove da manhã. Escuto pelo rádio que a metade mais pobre da população mundial possui a mesma riqueza que as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo. Penso sobre o assunto. Oitenta e cinco ricaços tem a mesma quantidade de dinheiro que três bilhões e meio de pessoas, juntas. Desenho isso na minha cabeça, faço a comparação novamente. Filhos da puta. Com os fones nos ouvidos, leio um livro do velho Bukowski, nem começou meu dia e já estou suando. Troco as notícias por música, sinto que estou sendo cozido dentro do ônibus, a sensação já passou dos 40 faz tempo. O cobrador dorme, as pessoas que entram e saem ainda nem acordaram, todos moribundos, zumbizando debaixo do sol. Lembro dos podres de rico, sonho com a praia, uma vida com dinheiro de sobra, sem obrigação de trabalhar, bermuda e chinelinho. Decido jogar na mega-sena, desisto cinco segundos depois. Decido trabalhar dezesseis horas por dia, sete dias por semana, até acumular muito dinheiro, lembro que já desisti desse plano em dois mil e cinco. O calor é forte, eu fraco demais para enfrentar tudo isso.
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