Fabrício, um herói.
Futebol é circo, teatro para distrair as massas das agruras do sistema,
tal qual acontecia nas arenas romanas. Obviamente isso não se resume ao futebol
e ao Brasil, mas a todo esporte espetacularizado em qualquer parte do planeta.
A torcida vibra com jogadas mirabolantes e gols de qualquer espécie,
goza de prazer com títulos e canta aos céus suas vitórias, mas basta uma
sequência de derrotas ou más apresentações para o murmurinho começar nas
arquibancadas. Tomado por uma sensação de empoderamento, o torcedor age como se
fosse um colega de vestiário nas vitórias e como um capitão-do-mato lançando a
chibata nas costas de seu escravo, nas derrotas.
Fabrício é um dos gladiadores das arenas modernas, foi moldado para
distrair e entreter. De origem pobre ganha montanhas de dinheiro para correr
atrás de uma bola, jurar amor por uma camisa e mostrar que faz o seu melhor a
cada jogo, pelo sucesso do clube que representa.
Na última semana eles entraram em conflito, após ser vaiado pelos que
também já o aplaudiram, Fabrício quebrou as regras do circo, se revoltou,
esbravejou contra a torcida colorada e mandou todos às favas, todos eles. Tirou
sua camisa vermelha e fez questão de dizer que não mais a colocaria, que não
faria mais parte daquilo ali.
Sabemos que Fabrício não
vai largar o futebol, ele depende do circo para sobreviver, provavelmente não
saberia fazer outra coisa em sua vida. Mas por instantes, mesmo que
involuntariamente, Fabrício foi o tordo que desafia o jogo, aquele dos Jogos Vorazes,
representando milhões de pessoas que gostariam de desafiar as mentiras de suas
vidas.
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