o grito que liberta
Presa no trânsito, no meio de centenas de carros também parados. Parados igual foi ontem, igual será amanhã. Abre a porta, respira fundo o ar gelado do inverno, tira os sapatos, sobe no capô do automóvel, escala até o teto engatinhando, fica de pé e observa atentamente todas as luzes, formas e silhuetas que podem ser avistadas no lusco-fusco do anoitecer. Enche os pulmões, abre os braços e grita, um grito longo que dura até a garganta falhar, o fôlego acabar, a barriga doer e as pernas dobrarem. Em segundos, o desabafo de uma vida. Volta para dentro do carro e se olha no espelho, não é a mesma mulher que foi ontem, nem a mesma mulher que será amanhã.
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