A despedida (ou das coisas que acontecem parte 3)

Perto de casa, Débora olhou para seu marido, pensou em tudo que estava em jogo naquele momento, nos anos de relacionamento, contas, famílias, amigos, viagens, planos e lutas que travaram lado a lado. Um homem bom, diriam todos os conhecidos, um ótimo homem, diriam os familiares, o amor de uma vida, diria ela. Silenciosamente uma lágrima correu pelo rosto, o álcool estava fazendo efeito, ela vomitou.

Acordar, assim como a culpa, é sempre a parte mais difícil de uma noite de vinho, mesmo quando o vinho é bom. Entre uma mordida e outra de uma maçã gelada, ela pensava em Isa, em como fugir com aquela mulher, em como fugir daquela mulher, em como fugir para aquela mulher. Os caminhos eram poucos, as consequências muitas e a maioria previsíveis.

Meados de março, o calor já não sufocava tanto quanto no auge do verão. Sentadas no bar predileto, elas dividiam cervejas com um grande grupo. A mão de uma repousava sobre a perna de outra, o cheiro de uma estava no corpo de outra. Estava tomada a grande decisão, de não tomar decisão nenhuma.

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