Ídolos que choram, me servem.
Em tempos de selvageria, tosquice, do avanço da violência verbal,
física, psicológica e moral contra as minorias, do crescimento de ícones masculinos
representando a brutalidade de ambos os lados da nossa política (vide Ciros e
Bolsonaros), eu quero ídolos que choram.
Neymar chorou, de joelhos, depois de um jogo contra a inofensiva Costa
Rica, no segundo jogo da fase de grupos de uma Copa do Mundo. Queríamos
matá-lo. Como fiscais de lágrimas denunciamos fingimento, julgamos falsas e
condenamos nosso melhor jogador. Como se houvesse momento certo
para o choro, como se houvesse o choro certo.
Tempos atrás tínhamos inveja dos jogadores argentinos e uruguaios que
lutavam até o fim, que batiam, berravam e se atiravam em campo fazendo cera.
Era a passionalidade hermana. Hoje reclamamos quando nossos jogadores
esbravejam, gritam, choram.
O que queremos, afinal?
Nossos meninos (meninos mesmo, as crianças, não os homens que chamamos
de meninos) precisam aprender que homem não é aquele que ganha na porrada,
subindo a voz, na violência. Homens ganham de vez em quando, perdem outras
vezes, sorriem e sim, choram. Por qualquer motivo. Choram. E devem chorar.
Neymar pode ser atacado por inúmeras coisas: pelos dribles na receita
federal, pelo cabelo feio, por ser marrento, um tanto mimado, por exagerar nas
quedas. Mas nunca por chorar.
Ídolos que choram, me servem.
Comentários