A Morte
Um dos assuntos recorrentes em meus momentos de reflexão é a
morte.
Para onde vamos? Devíamos estar mais preocupados com ela? Viemos dela e para ela retornaremos? Será a última viagem ou o silêncio eterno? Por que temos medo de morrer?
Tratada de variadas formas por
diferentes religiões, a morte é fato para todos, mas não representa o fim para
a grande maioria da humanidade. Ela pode ser vista como uma passagem para outra
realidade, pior ou melhor, de acordo com a vida da pessoa; O término de uma
jornada antes de começarmos a próxima ou até mesmo o descanso infinito.
Enquanto a maioria de nós crê
numa vida eterna, só alcançada após a falência de nosso corpo, não pensamos e
conversamos sobre o assunto com naturalidade. Ora, se a morte é certa e
acreditamos que após ela existe uma vida melhor que essa onde estamos, por que
não conversar sobre o fato? Falar da própria morte ou de familiares e amigos é
quase um tabu, algo que não deve ser mencionado ou lembrado. Por mais que digam
que é a única certeza que temos ao nascer, ninguém pensa em morte ao vivenciar
a chegada de um bebê. Nem depois. Chegamos com a certeza de que vamos embora,
mas dificilmente tocamos no assunto durante nossa existência.
Paradoxalmente, a morte está
banalizada. Programas televisivos de qualidade duvidosa fazem coberturas
sensacionalistas das mortes causadas por violência; Dados sobre acidentes
fatais de automóveis invadem os noticiários; O descaso da saúde pública
colabora para a manutenção do alto número de falecimentos; Guerras produzem
vítimas aos montes e governos maltratam seu povo ao redor do planeta. Tudo isso
é transformado em dados, índices, números, ajudando a anestesiar nossa
percepção sobre a morte. Sabemos que ela existe, mas sempre através de telas ou
páginas. Seja nas tvs, impressos ou gadgets digitais, a morte não tem
identidade. E quanto tem, esquecemos rapidamente.
Assim nos encontramos hoje,
nesse quadro de negação do nosso próprio fim.
Vivemos em modo eternidade até
o dia em que ela começa a nos rondar, seja por uma doença ou por encontrar
pessoas próximas. Por passarmos uma vida inteira sem levar nossa morte a sério,
sua aproximação torna a vida de todos os envolvidos mais difícil. Desde o
prolongamento forçado da vida que não aceita morrer a despedida dos que ficam.
Tristeza, medo, dor, aflição, são os principais sentimentos que acompanham os
momentos que antecedem a morte e permanecem no luto. No momento que um ser
humano morre, diversas vidas são afetadas, traumatizadas. Mas deveria ser
assim? É preciso chorar nossos mortos para sempre?
No que acreditamos realmente?
Não tenho condições de
responder todas as questões, mas faço uma aposta: fosse a morte mais presente,
tratada de forma natural, nossa vida seria melhor.
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