Velhos Decadentes de Ulan Bator

Estou fadado a ser um grande escritor. Sinto cada vez mais forte essa certeza de que meu nome estará em estantes espalhadas ao redor do mundo. Jovens malucos e velhos decadentes se reunirão para discutir minha obra nas livrarias de Lisboa, Paris, Roma, Porto Velho, Esteio, Frankfurt, Maputo e Ulan Bator. Talvez você não saiba, mas Ulan Bator é a capital da Mongólia. Eu também não sabia, quer dizer, eu soube um dia, mas havia esquecido. Procurei no Google a capital da Mongólia, me pareceu distante o suficiente para ser citada em minha pequena lista.

Sim, tenho noção da dificuldade de ser um grande escritor nos dias atuais. Essas primeiras décadas do Século XXI são tão rápidas e barulhentas que dificilmente alguém é notado verdadeiramente. E são muitos os que tentam, todos os dias, alçar o estrelato, acreditando que seu produto final é algo extraordinário e merece ser compartilhado com o mundo. E eu até acredito que muitos realmente são. Mas não temos tempo para apreciar a sério.

Comigo será diferente. Eu realmente serei grande. Entregarei palavras nunca antes ditas, contarei histórias jamais relatadas. Ficarei conhecido como o precursor de um movimento literário criado a partir dos meus escritos. Eu não faço ideia de qual será o recheio de meu primeiro romance, mas será escrito nas ruas desse canto no mundo, entre cafés e praças dessa cidade, no quarto ou na sala de meu minúsculo apartamento, a partir de frases rabiscadas num bloco de notas, pensamentos jogados em alguma rede social ou parágrafos digitados na página em branco de meu computador. Pode ser que em alguns finais de tarde, para receber a inspiração de todos que já passaram, eu pegue a velha máquina de escrever, guardada justamente para um dia me ajudar nessa jornada.

Não. Não sou brilhante. Pelo contrário, a mediocridade me define. Sou dos mais comuns. Desses que nascem as pencas todos os dias. Mas não preciso ficar preso a isso. Certo? Ser grande independe de quem sou, mas sim do que faço, do que me proponho a construir. Um homem sempre será lembrado por sua obra. E você sabe, estou fadado a ser um grande escritor.


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